Com apoio das abelhas, maçã de Santa Catarina cresce em sabor, qualidade e mercado. -

Com mais de 51 mil colmeias mobilizadas, apicultura migratória garante frutos de melhor qualidade, renda extra aos produtores e sustentabilidade no campo

Polinização estratégica fortalece fruticultura e apicultura em Santa Catarina

Em Santa Catarina, estado líder na produção nacional de maçãs, as abelhas vêm ganhando protagonismo nos pomares. Muito além da produção de mel, esses insetos exercem papel fundamental na polinização, serviço ambiental que impacta diretamente na qualidade e na produtividade das frutas. Estima-se que 51,9 mil colmeias sejam mobilizadas anualmente apenas para a polinização de macieiras, movimentando cerca de R$6,4 milhões.

A técnica utilizada é chamada de apicultura migratória. Nela, apicultores transportam colmeias para áreas de cultivo durante a floração das plantas, recebendo, em média, R$125 por colmeia. A prática beneficia os dois setores: os fruticultores colhem maçãs mais simétricas e valorizadas comercialmente, enquanto os apicultores ampliam sua fonte de renda, especialmente em períodos menos produtivos para o mel.

Colaboração entre agricultores e abelhas rende frutos melhores

Segundo a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), o serviço das abelhas pode ser responsável por até R$988 milhões dos R$1 bilhão gerado pela safra de maçãs em 2023. Isso porque a polinização correta resulta em frutos com mais sementes, melhor aparência e maior durabilidade em armazenamento.

Renan Lima Pereira, produtor de maçãs e apicultor em São Joaquim, é exemplo do sucesso da integração entre as atividades. Desde que passou a adotar o manejo orientado pela Epagri, com até 10 colmeias por hectare, obteve ganhos de 20% a 25% na produtividade. Atualmente, ele e o irmão Breno gerenciam o Apiário Flor de Altitude, com 450 colmeias e rendimento anual de cerca de R$47 mil com o aluguel para polinização.

Apoio técnico e crédito impulsionam a polinização migratória

Para ampliar o alcance da técnica, o governo estadual lançou em 2023 o programa Poliniza SC, que oferece até R$10 mil em crédito para fruticultores investirem no aluguel de colmeias. A Epagri é parceira na elaboração dos projetos e presta assistência técnica tanto a apicultores quanto a produtores de maçã.

Em 2024, a empresa realizou mais de 2 mil atendimentos em regiões produtoras como Lages, São Joaquim e Videira, reforçando as orientações sobre o uso correto de agrotóxicos, o planejamento da floração e o manejo das colmeias.

Pesquisas orientam boas práticas e aumentam produtividade

De acordo com o pesquisador André Sezerino, o planejamento da polinização começa ainda na implantação dos pomares, com a escolha das variedades e a disposição das plantas, visando à polinização cruzada entre cultivares como Fuji e Gala. A recomendação técnica é de pelo menos seis colmeias com ferrão por hectare. O uso complementar de abelhas nativas, especialmente em áreas com telas antigranizo, pode elevar a produção em até 5 toneladas por hectare.

Mais polinização, mais sustentabilidade

Além dos ganhos financeiros e produtivos, a apicultura migratória contribui para a preservação ambiental. Com mais colmeias ativas, cresce a polinização não apenas das plantações, mas também da vegetação nativa, fortalecendo os ecossistemas locais. A colaboração entre agricultura e apicultura mostra que produzir mais pode significar também cuidar melhor do meio ambiente.