
A aguardada celebração que seria presidida pelo padre Júlio Lancellotti em Blumenau, marcada para 1º de outubro, foi cancelada após a cozinha comunitária Bom Pastor, coordenada pelo padre João Bachmann, receber uma onda de ataques virtuais e ameaças de suspensão de doações.
A princípio, a justificativa oficial foi de que “diferentes fatores levaram à decisão”. Porém, nos bastidores, ficou evidente que a pressão partiu de críticas e manifestações contrárias à presença de Lancellotti. Nas redes sociais, internautas passaram a atacar o religioso com insultos e acusações antigas, já arquivadas pela Justiça, chamando-o de “comunista” e “pedófilo”.
As reações ultrapassaram o ambiente digital. Pessoas físicas e até empresas, responsáveis por doações fundamentais para a manutenção da cozinha comunitária, alertaram que poderiam cortar o apoio financeiro e alimentar caso a missa fosse realizada.
O espaço, que atende pessoas em situação de rua e famílias em vulnerabilidade social no bairro Vila Nova, depende de doações para manter suas atividades, como distribuição de refeições, acolhimento e venda de roupas em brechós beneficentes. Diante do risco de perder essa rede de apoio, a decisão foi encerrar a programação religiosa no local.
Apesar do cancelamento da missa, a vinda de Lancellotti a Blumenau está confirmada. No dia 2 de outubro, ele ministrará a palestra “Cidades inteligentes acolhem as pessoas em situação de rua”, na Furb, abordando o combate à chamada “arquitetura hostil” — práticas urbanísticas que buscam afastar pobres e moradores de rua dos espaços públicos.
Reconhecido nacionalmente por seu trabalho junto à população em situação de rua em São Paulo, o padre também é coordenador da Pastoral do Povo da Rua e ativista contra a aporofobia (aversão ou rejeição aos pobres). Em 2022, chegou a criticar duramente Blumenau por uma campanha municipal que dizia: “Não dê esmolas. Só mora nas ruas de Blumenau quem quer”, chamando a iniciativa de “criminalização da pobreza”.
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