
Os primeiros brasileiros deportados dos Estados Unidos após a posse de Donald Trump pousaram no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na noite de sábado (25). O voo trouxe histórias marcadas por agressões, condições desumanas e momentos de pânico relatados pelos deportados.
Sandra Pereira de Souza, de 36 anos, seu marido Alisdete Gonçalves dos Santos, de 49, e seus dois filhos pequenos estavam entre os passageiros. Em lágrimas, Sandra descreveu os momentos vividos desde a saída da Louisiana como “uma tortura”. Ela relatou que o avião apresentava falhas técnicas evidentes, aumentando o medo de todos a bordo.
“Foi um inferno, uma tortura desde que saímos. O avião parecia estar com problemas, e sentimos que havia um total descaso com nossa segurança. A sensação era de que podíamos morrer a qualquer momento”, afirmou.
A família foi surpreendida por uma convocação da imigração americana, que os levou a uma “reunião”. Sem saber que estavam sendo deportados, não tiveram tempo sequer de pegar uma fralda para o bebê. O casal, que vivia nos EUA há mais de três anos, deixou para trás uma empresa, uma casa e um carro.
Entre os 88 brasileiros deportados, muitos relataram abusos graves durante o processo. Carlos Vinícius de Jesus, de 29 anos, afirmou que foi algemado nos braços, pernas e cintura, e sofreu agressões físicas e psicológicas.
“Nos ameaçaram dizendo que iam derrubar o avião e que nosso governo não valia nada. Fomos tratados como lixo, apanhamos e ouvimos coisas humilhantes. Eles usaram até as algemas para nos bater”, relatou Carlos, que tentou entrar nos EUA pelo México em 2023.
Segundo os relatos, os homens foram as principais vítimas de violência física. Apenas mulheres, crianças e pais com filhos pequenos foram poupados.
Além das agressões, os deportados enfrentaram problemas graves com a aeronave utilizada na deportação. Kaleb Barbosa, de 28 anos, que viveu nos EUA por seis anos, descreveu o voo como “um filme de terror”.
“O avião parou no Panamá por problemas técnicos, mas decidiram continuar o voo. Durante o trajeto, o ar-condicionado parou de funcionar, crianças começaram a desmaiar, e as turbinas falhavam no ar. Houve um momento em que a fumaça saía das turbinas enquanto estávamos em Manaus”, contou.
A situação só foi aliviada após intervenção do governo brasileiro, que disponibilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para concluir o trajeto com segurança.